20 ANOS DE ESTRADA
por Alexandre Nagado
Neste mês de novembro, estou completando 20 anos de carreira. Não são vinte anos desenhando, visto que comecei a traçar figuras reconhecíveis aos 2 anos de idade. É que já vi gente que diz ter 30 anos de carreira, mas considera o tempo em que era criança e ficava desenhando por gosto. Com 10 anos, fiz desenhos pra um jornalzinho da escola, impresso em mimeógrafo, o que obviamente não conta. Aos 15, comecei a estudar desenho com Ismael dos Santos no Núcleo de Arte e aí comecei a considerar seriamente trabalhar com desenho. No meu caso, o apoio dos pais foi fundamental para isso, pois as cobranças da sociedade são muitas e a profissão de artista em geral é mal vista. Trabalhar por conta, então, dá a impressão pra muita gente que não se tem horário certo pra trabalhar, quando na verdade não se tem horário certo é pra descansar.
Eu debutei profissionalmente, (ou seja, recebendo por um desenho publicado) em novembro de 1988, quando eu tinha 17 anos e estava concluindo o colegial. Eram cartuns para dois jornais de sindicato patronal: um de fabricantes de motopeças e outro de bicicletas. Infelizmente, não tenho mais as edições.
Com caricaturas para eventos, o primeiro trabalho veio em 1989, numa promoção da semana dos pais do Shopping Interlagos. Nos quadrinhos, foi com um roteiro de Flashman para a revista Jaspion (Editora Abril), em 1990, mas o que marcou minha carreira foi Street Fighter (Ed. Escala), gibi de sucesso dos anos 90 com mais de 20.000 exemplares vendidos por ediçãoo (algo quase impensável no mercado atual de quadrinhos). E na área de redação, o primeiro texto foi publicado em 1993, na revista SET - Terror e Ficção, mas fiquei marcado mesmo pela revista Herói (ACME), fenômeno de vendas também na década de 90, com picos de mais de 500.000 exemplares por edição. Apesar dos 20 anos desenhando, construí uma carreira mais conhecida pelo público escrevendo roteiros e matérias.
De 1988 pra cá, muitos trabalhos foram feitos. Manter-se na área é sempre difícil. Mesmo com tanto tempo de carreira, ainda aparecem convites para trabalhos que não pagam, com o "contratante" achando que divulgar o trabalho é um pagamento suficiente. Há apenas dois anos atrás, o assessor de um vereador (atualmente deputado) teve o disparate de tentar me convencer a desenhar o político "propondo um desafio" pra mim e depois dizendo como ia ser fantástico ver meu desenho transformado em centenas de adesivos circulando pela cidade. Ou um convite para uma palestra numa faculdade em que o professor que me convidou alegou que, como a palestra era para fins educativos (sério?), não haveria verba. Ou empresas de eventos que acham que caricaturista tem que desenhar feito um robô, em condições desconfortáveis e até humilhantes.
Ter longos anos de carreira na verdade só faz aumentar o número de casos a serem contados, dos hilários aos revoltantes. E ainda tenho que correr atrás de clientes - especialmente governamentais - para receber por trabalhos feitos.
Meu desenho não é exuberante e, na área dos quadrinhos, sempre tive críticos ferozes. Realmente, muitos garotos de 15 anos possuem um traço mais chamativo, mais elegante ou mais detalhado pra desenhar uma pose repetida. Porém, não é apenas talento que forja um profissional, como não me canso de dizer em palestras. Vocação artística e vocação profissional são coisas diferentes. O "artista" desenha por inspiração. Logo, pode não aceitar pressão para desenhar uma coisa que ele não gosta, como por exemplo um pasto cheio de ovelhas para um livro de matemática. Ser um artista profissional é tirar seu sustento de sua arte, cumprindo prazos e mantendo uma qualidade para o mercado. Em certos momentos, depende mais de treino e disposição do que talento.
Enfim, apesar das dificuldades, tem valido a pena trilhar este caminho. Tive a satisfação de ter publicado muitos quadrinhos, de ter conquistado o respeito de muitos colegas de profissão e de ter conseguido passar um pouco do que sei para muitos alunos. Também não posso esquecer que meu histórico me proporcionou um convite para conhecer o Japão em março passado.
Um enorme agradecimento a Deus, a meus pais, aos amigos, ao mestre Ismael e a todas as pessoas generosas que conheci pelo caminho. E a minha família, a razão maior para continuar.
Que venham os próximos 20 anos!
Eu debutei profissionalmente, (ou seja, recebendo por um desenho publicado) em novembro de 1988, quando eu tinha 17 anos e estava concluindo o colegial. Eram cartuns para dois jornais de sindicato patronal: um de fabricantes de motopeças e outro de bicicletas. Infelizmente, não tenho mais as edições.
Com caricaturas para eventos, o primeiro trabalho veio em 1989, numa promoção da semana dos pais do Shopping Interlagos. Nos quadrinhos, foi com um roteiro de Flashman para a revista Jaspion (Editora Abril), em 1990, mas o que marcou minha carreira foi Street Fighter (Ed. Escala), gibi de sucesso dos anos 90 com mais de 20.000 exemplares vendidos por ediçãoo (algo quase impensável no mercado atual de quadrinhos). E na área de redação, o primeiro texto foi publicado em 1993, na revista SET - Terror e Ficção, mas fiquei marcado mesmo pela revista Herói (ACME), fenômeno de vendas também na década de 90, com picos de mais de 500.000 exemplares por edição. Apesar dos 20 anos desenhando, construí uma carreira mais conhecida pelo público escrevendo roteiros e matérias.
De 1988 pra cá, muitos trabalhos foram feitos. Manter-se na área é sempre difícil. Mesmo com tanto tempo de carreira, ainda aparecem convites para trabalhos que não pagam, com o "contratante" achando que divulgar o trabalho é um pagamento suficiente. Há apenas dois anos atrás, o assessor de um vereador (atualmente deputado) teve o disparate de tentar me convencer a desenhar o político "propondo um desafio" pra mim e depois dizendo como ia ser fantástico ver meu desenho transformado em centenas de adesivos circulando pela cidade. Ou um convite para uma palestra numa faculdade em que o professor que me convidou alegou que, como a palestra era para fins educativos (sério?), não haveria verba. Ou empresas de eventos que acham que caricaturista tem que desenhar feito um robô, em condições desconfortáveis e até humilhantes.
Ter longos anos de carreira na verdade só faz aumentar o número de casos a serem contados, dos hilários aos revoltantes. E ainda tenho que correr atrás de clientes - especialmente governamentais - para receber por trabalhos feitos.
Meu desenho não é exuberante e, na área dos quadrinhos, sempre tive críticos ferozes. Realmente, muitos garotos de 15 anos possuem um traço mais chamativo, mais elegante ou mais detalhado pra desenhar uma pose repetida. Porém, não é apenas talento que forja um profissional, como não me canso de dizer em palestras. Vocação artística e vocação profissional são coisas diferentes. O "artista" desenha por inspiração. Logo, pode não aceitar pressão para desenhar uma coisa que ele não gosta, como por exemplo um pasto cheio de ovelhas para um livro de matemática. Ser um artista profissional é tirar seu sustento de sua arte, cumprindo prazos e mantendo uma qualidade para o mercado. Em certos momentos, depende mais de treino e disposição do que talento.
Enfim, apesar das dificuldades, tem valido a pena trilhar este caminho. Tive a satisfação de ter publicado muitos quadrinhos, de ter conquistado o respeito de muitos colegas de profissão e de ter conseguido passar um pouco do que sei para muitos alunos. Também não posso esquecer que meu histórico me proporcionou um convite para conhecer o Japão em março passado.
Um enorme agradecimento a Deus, a meus pais, aos amigos, ao mestre Ismael e a todas as pessoas generosas que conheci pelo caminho. E a minha família, a razão maior para continuar.
Que venham os próximos 20 anos!
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