
Não sei como o Leo escrevia antes da operação, mas ao ler os textos aqui reunidos percebe-se que, no pós-operatório, dedicou à escrita a mesma calma, a mesma vagarosa e quase ritualística atenção que aprendeu a dar às refeições. É tanta a graça e fluidez das crônicas que o leitor pode devorar este livro numa única sentada – o que não aconselho. Melhor será tratar cada um dos textos como um quitute literário e saboreá-los aos poucos, um de cada vez, com o prazer de quem come uma empada, no meio da tarde – não uma empada qualquer, mas uma empada de verdade, dessas
cuja massa úmida, na consistência exata entre o sólido e a implosão, envolve um recheio molhado e vermelho, de camarão. Eu disse que os textos fluem, com graça. É verdade, mas eles têm mais do que isso. Têm a coragem de quem topa dividir as próprias inseguranças, da alma e do corpo, com os leitores, e isso é um grande mérito. Afinal, os textos, assim como as comidas, devem

que ao terminar de ler o livro a gente não sabe o que faz: se começa uma dieta e sobe na esteira ou se vai correndo ao restaurante preferido, pedir um leitão à pururuca com tutu de feijão. Mas aí, como já dizia o poeta, vai da pessoa. Só me cabe, no papel de prefaciador, desejar uma boa
leitura. Ou será que eu deveria dizer: bom apetite?
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