terça-feira, 30 de novembro de 2010

Lançamento de Novembro

Leo Coutinho nos diz, em uma destas deliciosas crônicas, que precisou operar o estômago para aprender a saborear as comidas. Quem come muito costuma engolir rápido, mal mastiga, não tem tempo de sentir o gosto. Foi só ao ser impedido de comer – ou, pelo menos, de comer tanto quanto gostaria – que o Leo percebeu todos os prazeres por trás da textura crocante de uma torrada, o sabor único de cada legume, a delícia de meio pão francês, sem miolo, com manteiga, saindo do forno.
Não sei como o Leo escrevia antes da operação, mas ao ler os textos aqui reunidos percebe-se que, no pós-operatório, dedicou à escrita a mesma calma, a mesma vagarosa e quase ritualística atenção que aprendeu a dar às refeições. É tanta a graça e fluidez das crônicas que o leitor pode devorar este livro numa única sentada – o que não aconselho. Melhor será tratar cada um dos textos como um quitute literário e saboreá-los aos poucos, um de cada vez, com o prazer de quem come uma empada, no meio da tarde – não uma empada qualquer, mas uma empada de verdade, dessas
cuja massa úmida, na consistência exata entre o sólido e a implosão, envolve um recheio molhado e vermelho, de camarão. Eu disse que os textos fluem, com graça. É verdade, mas eles têm mais do que isso. Têm a coragem de quem topa dividir as próprias inseguranças, da alma e do corpo, com os leitores, e isso é um grande mérito. Afinal, os textos, assim como as comidas, devem ser saborosos e, na mesma medida, nutritivos. Estes aqui atingem ambas as metas. Neles o autor, agora magro, fala com tamanha empolgação tanto de sua trajetória rumo à saúde quanto das comidas perdidas (e reencontradas, em diminutas porções),
que ao terminar de ler o livro a gente não sabe o que faz: se começa uma dieta e sobe na esteira ou se vai correndo ao restaurante preferido, pedir um leitão à pururuca com tutu de feijão. Mas aí, como já dizia o poeta, vai da pessoa. Só me cabe, no papel de prefaciador, desejar uma boa
leitura. Ou será que eu deveria dizer: bom apetite?


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